Sunday, January 6, 2013

No detalhe Uma coisa que ninguém nunca disse ao olhar pra mim

No detalhe

Uma coisa que ninguém nunca disse ao olhar pra mim foi "mas você é cara da sua mãe!". Já disseram que tenho a cara da sogra, da abuelita e da moça do banco, mas da mãe, nunca. E minha mãe sabia disso e deixou de se incomodar com o fato quando percebeu que não dava pra fazer muita coisa a respeito. E as diferenças não paravam aí, como já comentei uma ou duas vezes. Tinhamos temperamentos completamente opostos, assim como opiniões. Concordávamos apenas que a Lua não era feita de queijo, mas isso porque eu acreditava que se tratava de um satélite natural e ela dizia que era a casa de São Jorge ou coisa assim. Quase irreconciliáveis, as nossas pendengas. Se não fosse pelo Amor, claro, que tudo releva, em ambas as partes.
E aí, vez em quando, eu levo um tremendo susto. Porque não sou de escrever muito atualmente. Digo escrever a mão, com caneta, lápis, essa coisa old school, quase fora de moda. Faço uma anotação ou outra, mas é coisa rara, que se perde no fundo da bolsa ou no verso de algum boleto. E fiquei de queixo caído e coração gelado, minutos atrás, quando remexi em umas folhas impressas que estou usando pra montar um trabalho. Entre um rabisco e outro, feito enquanto falava ao telefone, uma sentença, um parágrafo inteiro sobre alguma coisa aduaneira, anotado às pressas pra ser usado depois. Aquela caligrafia conhecida e reconhecida quase de maneira infantil. Meu coração deu um pulo ao ver a letra da minha mãe. Mas durou apenas um segundo, já que a prova concreta e irrefutável de um rodapé exibindo o ano de 2007 dizia, triste até, que a letra era, obviamente, minha.


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