Monday, June 4, 2012

O dedo de Deus Nós já vimos isso antes. Pelo menos na ficção,

O dedo de Deus

Nós já vimos isso antes. Pelo menos na ficção, em As Bruxas de Salém. Fico dividida. Se, por um lado, é uma demonstração do envolvimento da sociedade em uma causa - qualquer causa, considerando que a sociedade brasileira não é lá de se pronunciar e muito menos protestar por coisa alguma, que aqui todo mundo é da paz - por outro lado, fico com a sensação de que tudo se transformou em um grande circo. E aquelas pessoas jogando pedras e saltitando sorrindo em frente a portões e portas de delegacia não têm muita noção do que estão solicitando ali.

Uma criança foi assassinada. Em um país onde dezenas de crianças são mortas todos os dias. Sim, o fato de seu pai estar envolvido (torpe, cruel, doentio) faz com que tudo seja ainda mais difícil de digerir, eu concordo. Mas quando uma criança morre de fome, a culpa é de quem? Ou quando ela é levada tarde demais para um hospital? Quando uma criança começa a usar crack ou merla, de quem é a culpa? E quando ela vira Falcão?

Estou tão indignada quanto qualquer outra pessoa. Mas não consigo me eximir de um pouco de culpa. Tenho esse vício, esse olhar que afasta pra enxergar melhor. E com isso vejo um problema bem grande, muito maior do que apenas dois monstros que cometeram um ato aterrador.

Não sei se consigo expressar claramente o que estou sentindo - desculpem, muito paracetamol dá nisso - mas erva daninha não cresce no concreto. Precisa de uma fresta. E mais do que isso, de água e ar. Eu acho que nós, como um todo, preocupados com nossos vazinhos pessoais, somos negligentes quanto a essas frestas, que acabam se tornando hectares abandonados. Porque dá trabalho, exige envolvimento. E sempre haverá o Estado para nos proteger. Será? Milhares de vítimas descobriram que não é bem assim.

Qualquer pessoa pode se recolher em sua própria concha e fechar os olhos para o que acontece ao seu redor. Mas é bom ter em mente que atirar pedras e fazer cartazes não vai modificar essa situação.

Se a Sociedade redescobriu a possibilidade de expressar sua opinião, seria muito importante - e urgente - que encontrasse também uma maneira de transformar seus desejos em atos concretos, contribuindo e ajudando a avaliar o trabalho daqueles que se propõe a organizar nossa vida civil.


Citei As Bruxas de Salém por ser a imagem de (falsa) histeria coletiva mais recente que me vem à mente. Enquanto estamos plantados, tentando linchar os (agora) acusados, os Deputados Federais receberam um aumento de R$10 mil Reais. Agora, cada um deles passa a custar algo entre R$110 e R$120 mil Reais por mês aos cofres públicos. São mais de 500 deputados, façam as contas. E eu nem estou falando dos Senadores.

Tá na hora de pegar o baldinho de pedras e rumar pra Brasília, se é assim que vamos resolver as coisas agora.



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