Thursday, January 6, 2011

Cores de Almodóvar, cores Eu ando pelo mundo pre...

Cores de Almodóvar, cores


Eu ando pelo mundo prestando atenção
Em cores que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo, cores
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca,
Uma cápsula protetora
Eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa
Filtrar seus graus
Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome nos meninos que têm fome
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle
Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm pra quê?
As crianças correm pra onde?
Transito entre dois lados
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo, me mostro
Eu canto para quem?
Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço?
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado

Em alguns momentos eu fico esperando que o Almodóvar grite de algum lugar pra mim: Corta!
Pra relaxar, abandonar essa personagem inusitada que está aí, na levada, em cartaz já tem um tempo. E poder, sei lá, me jogar num daqueles sofás coloridos que servem de cenário pros filmes dele. Mas não tem câmera escondida. É real. A começar pelo meu próprio sofá.
Assim como são reais as mulheres nervosas da minha família e os homens neuróticos (vejo um quê de Wood Allen aí, deslocado, sem New York).
Tudo é agridoce.
Barulhento. Passional.
Super pitoresco pra quem vê de fora.
Uma loucura. Lou-cu-ra.
Mas vale o ingresso.

Minha família de sangre é matriarcal. Ou seja, tudo gira em torno da abuelita. E é assim há algumas gerações. Tudo regado a lágrimas e muito suco de laranja. Os homens falam pouco e na maior parte das vezes, suas palavras são "estou indo embora" ou "larga, eu não consigo respirar".



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