Friday, October 7, 2011

A fila às vezes não anda Pelo menos não a do banco. Longos

A fila às vezes não anda

Pelo menos não a do banco. Longos minutos que parecem horas. Uma eternidade de curiosidade. Todo mundo olha pra todo mundo, mas tudo com o canto do olho. Um casal teen se filma com os celulares. Agora até os momentos de espera são multimída, vejam só.
Mulheres são cruéis. Eu sei, eu também sou. Um traço mal feito de delineador e eu já tenho um sorriso escondido. Mas provavelmente alguém ri do meu vestido de bolas também. Eu não me importo, nasci pra entreter vocês. Uma moça arruma obsessivamente o cabelo de uma senhora que eu imagino ser sua mãe. Eu confiro cinco, seis vezes, o que já tinha conferido antes de sair. E daí, estou presa aqui, não tenho nada melhor pra fazer. Então observo a selva humana. E percebo que o tempo talvez tenha me deixado crítica demais, seletiva demais. Vamos ver, hipoteticamente, mundo acabou e só restamos eu e um desses caras dessa fila. A espécie humana desaparecerá, sinto informar. De jeito nenhum, nem pra salvar o planeta. Vamos orar, irmãozinho. Mas a fila não anda. Por que esse mal humor organizacional nos atendentes? Todo mundo com os cabelos tão penteados. Muitos óculos, nenhum sorriso do lado de lá do balcão. Enquanto isso os alinhados são só alegria. Vamos seguir o caminho traçado, por favor. Sim, seu guarda. Eu jamais me perderia num matadouro, eu sei andar atrás das outras vaquinhas. Não gosto, mas ando quando é preciso. Por que você olha tanto para mim, moça de rabo-de-cavalo? Começo a acertar meu batom borrado imaginário. Depois da terceira vez eu já espero que você ouça meu desejo silencioso de vá se catar. Minha nuca pesa e eu sei que é porque esse senhor atrás de mim olha pra ela. Meu ato de vingança é secar a nuca dessa senhora a minha frente. Vamos lá, um pouco mais e, isso!, ela se contorce. Não falha nunca. Ei, mas aonde a senhora vai... ah, sim, sou a próxima. Não é que nem demorou?



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