Sunday, April 10, 2011

Esse mundo é uma merda Minha cabeça dói muito nesse momento. E

Esse mundo é uma merda

Minha cabeça dói muito nesse momento. E é um momento interminável, que começou ontem e se arrasta pelas horas, marcando compassos pulsantes nas têmporas.

Dramático?

Não, não é nada perto disso aqui. É uma vergonha e prova irrefutável de que pessoas nascem, sim, ruins por natureza. E permanecem dessa maneira. E se orgulham, publicando suas atrocidades. E existem meios de comunicação que divulgam e ainda por cima pagam ao indivíduo para que seu caráter moldado por um córtex com camadas ausentes seja admirado pelo resto do mundo.

Carta aberta para Luisa
Nosso colunista pede desculpas públicas à empregada da família com quem transou, contra a vontade dela, quando tinha 14 anos

Oi Luisa,

Será que você lembra de mim? Sou filho da dona Fany, do Bom Retiro. Provavelmente você lembra, mas talvez por desgosto tenha removido aquela absurda tarde da memória. Só me permito lembrar – lavando estes panos sujos assim tão publicamente – porque o mundo é cheio de Luisas. Porque já se passaram 32 anos e porque, lamentavelmente, o que aconteceu entre nós não é tão incomum.

Quantos anos você tinha? Vinte, trinta? De onde você era? Quem você era? Só sei que você era empregada de casa, que teus seios eram fartos e que eu tinha 14 anos. Você era tímida e já trabalhava em casa há algumas semanas quando a Sheilinha, uma colega de classe, me disse que você já tinha trabalhado na casa da família dela e que você “dava para um motorista de táxi”.

A idéia de que você “dava” não saiu da minha cabeça, e você começou a estrelar obsessivamente todas as minhas punhetas. De tarde eu ficava rondando pela área de serviço enquanto você lavava a roupa. Era um tesão incontrolável, aflito, desesperado e covarde.

Eu nunca gostei daquele bosta do Adalberto e não me perdôo por tê-lo envolvido nessa história. Até hoje, nas poucas reuniões da turma do colégio Renascença, eu o evito. Mas ele era maior e mais corajoso, e eu recorri a ele. Sinto muito remorso, Luisa, pelo que fizemos.

Meus pais e irmãs tinham saído e você estava varrendo a sala quando eu e o Adalberto demos o bote. Não lembro qual foi o nosso papo, mas imagino que tenha sido a coisa mais ridícula do mundo. Pedimos, insistimos sem parar para que você “desse” para nós.

CASA-GRANDE E SENZALA

Lembro de poucos detalhes. Você não queria, mas por força da nossa insistência acabou cedendo. Sinto ódio do Brasil quando penso que você provavelmente tivesse medo de perder o emprego.

O Adalberto, é claro, foi o primeiro. Subi numa escada e fiquei olhando através da janelinha do cubículo que era o teu quarto. Depois fui eu. Não foi bom, Luisa. Na hora do vamos ver fiquei envergonhado e não rolou legal. Até hoje me envergonho. Muito.

Espero que você esteja bem. Espero que para você a memória daquela tarde não seja tão ruim e que você hoje possa rir do que aconteceu.

Desculpas, Luisa.

Henrique.

HENRIQUE GOLDMAN, 46, cineasta paulistano radicado em Londres, tornou-se mais jeitosinho com as mulheres ao longo dos anos.



Eu espero que alguém um dia te pegue de jeito num corredor, numa escada, em qualquer canto desse mundo, seu pária! Pra que você também possa rir ao se lembrar, filho da puta.

Essa é uma revista muderna, né? Pra gente descolex, com atitude. Prefiro ser retrógrada, caretona, véia, do que me fazer de super resolvida com as misérias humanas e achar bonitinho o que esse cara escreveu.


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