Tuesday, January 3, 2012

Entre Alfa e Beta Acordei no momento exato em que...

Entre Alfa e Beta

Acordei no momento exato em que o Predador se agachava para arrancar um dedo do Alien e com ele marcar sua carcaça. Com a cabeça ainda dependurada no sofá não pude deixar de pensar que se a cada leão que matamos por dia fossemos exibir uma nova marca no corpo seríamos todos seres humanos estampados.

Gosto muito da idéia de Alien X Predator, porque pra mim é quase como uma situação ideal: problema perseguindo problema e a gente com tempo de cuidar de outras coisas. 'Eu sou mau!'. 'Não, EU sou mau!'; 'Não há lugar pra dois monstros maus no Universo, um de nós tem que morrer!'; 'Concordo: você!'. E o final a gente já conhece. Se fosse simples assim...

Mas o filme não me distrai depois que desperto. Passei o dia todo fugindo para distrações cotidianas, mas agora, no silêncio de todo o resto, meu pensamento volta às notícias a respeito do bebê acéfalo. Assunto delicadíssimo e por isso mesmo não merece ser deixado de lado. Porque a vida não é só estréia no cinema e reprise na Tv.
Eu olho pra foto da revista e, assim como na imagem da televisão, o que atrai meus olhos instantaneamente é o olhar na imagem da santa pregada na parede, hipnotizando e prendendo por vários segundos. E eu não penso em outra palavra além de 'misericórdia'. Nem sei pra quem estou pedindo. E nem mais por quem. Porque o sofrimento é tão grande e tão sem sentido. Eu só consigo pensar que precisa acabar. Essa é minha relação mais antiga com o sofrimento: eu só quero que ele acabe. Vejo o bebê - adormecido? pousado? - sobre a cama. O gorro de lã que se tornou parte do seu corpo. A salvaguarda da esperança resignada de seus pais. E os olhos impressos da santa me encaram, com sua suavidade característica. E eu me encho novamente de ternura por ela, por tudo que colocam a seus pés e sob o manto azul. Todo o improvável e até o impossível. Dois mil anos de sofrimento documentado. E eu só peço que ele também acabe.

Mas o bebê continua quieto. Alheio às ladainhas e vigílias. Ao toque, ao passar do tempo. Imune a batalha moral que se desenrola a sua volta. Ele respira e cresce. Desafiando a ciência, dizem uns. Nascida pra ser mártir, digo eu. Pra carregar o peso de expectativas que - ainda bem - ela nunca chegará a tomar conhecimento. A seus pés, pedidos e agradecimentos serão depositados. Porque ela é guerreira de uma batalha que não optou por lutar. Um símbolo alçado por emoções que ela não conhecerá.
E quem sabe, no futuro, também terá olhos doces retratados numa imagem. Sem expectativas, sem ardor ou dor. Só uma imagem.

Por isso eu gosto tanto de ficção. No filme, uma explosão resolveu todo o impasse. A vida real demanda um pouco mais do que isso. E sem o torpor da madrugada.

Reflexões de uma mente embriagada de sono e excesso de realidade.


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